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Paranapiacaba e um modesto herói da ferrovia: a trajetória do maquinista Romão Justo Filho, um herói anônimo, é um dos exemplos da riqueza histórica de um país que poderia crescer ainda mais sobre os trilhos.

Paranapiacaba, em tupi-guarani, significa “lugar de onde se avista o mar”. Vila criada pelos ingleses entre 1.865 e 1.867 para moradia dos ferroviários da linha Santos-Jundiaí, uma das ligações ferroviárias pioneiras do Brasil. Pertencente a Santo André, no ABC Paulista, a vila é cercada por belezas naturais, sendo possível do “planalto” ver mesmo o mar no litoral sul.

 

A vila também é marcada por diversas histórias que envolvem grandes empreendedores, como Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, idealizador da linha; governos; investidores internacionais e grandes barões do café, já que o principal objetivo da ligação ferroviária foi inicialmente facilitar a exportação da produção, com o escoamento do produto do interior paulista até o Porto de Santos e, de lá, para ao mundo.

 

Também marcou a história da chamada Vila Inglesa, que tem até uma réplica do relógio Big Ben, o trabalho anônimo dos milhares de ferroviários que atuaram no ir e vir de pessoas e mercadorias e na construção de uma sociedade que deixava de ser rural para se tornar predominantemente urbana. Um destes profissionais foi Romão Justo Filho.

 

Filho de ferroviário, Romão começou a trabalhar antes dos 13 anos como limpador de trens. Naquela época, não havia regulação sobre o trabalho infantil. Logo no início de sua carreira, Romão recebeu uma missão: limpar um trem que receberia o Rei Alberto, da Bélgica, em 1.920. A visita era tão importante que teve cobertura da imprensa e até virou selo oficial dos correios.

 

O sonho de Romão era ser maquinista, o que foi conquistado anos depois. Seu nome entraria para a história da Vila e da ferrovia no Brasil, apesar de ser pouco divulgada.

 

Na época o sistema de tração era o funicular: grandes máquinas fixas ficavam em cada um dos cinco patamares com cabos que ajudavam os trens movidos a carvão a subir e a descer a Serra do Mar. Estes cabos ficavam presos sob os trens Locobreques, de fabricação inglesa, e se estendiam pelos trilhos.

 

Enfim... no dia 29 de julho de 1.956, um dos cabos se rompeu, bem sob a composição comandada por Romão. Segundo conta Ada Alonso Justo Bazani, filha do maquinista, outros acidentes semelhantes ocorreram, com resultados trágicos. Porém, uma manobra realizada com muita perícia e fé evitou que mais uma tragédia acontecesse: foram salvas mais de 150 vidas.

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O maquinista Romão Justo Filho e o foguista Adriano Souza Andrade no Locobreque nr. 3.

(Foto: https://diariodotransporte.com.br/2019/03/10/historia-paranapiacaba-e-um-modesto-heroi-da-ferrovia/).

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Romão Justo Filho ao lado de uma das máquinas estacionárias da ferrovia Santos-Jundiaí.

(Foto: https://diariodotransporte.com.br/2019/03/10/historia-paranapiacaba-e-um-modesto-heroi-da-ferrovia/).

“Meu pai sempre foi de muita fé mesmo. Levava consigo um crucifixo e uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Ele sempre contava que quando o cabo rompeu, pegou a imagem, pensou em Jesus Cristo e teve a tranquilidade de acionar a tenaz e vagarosamente ir parando o trem. Se parasse com tudo ia descarrilar e isso já tinha acontecido antes com vários mortos” – relembra.

 

Numa edição da Revista Ferrovia dos anos 1.980, o próprio Romão Justo Filho relatou o que ocorreu no dia. O maquinista disse que teve um pressentimento de que algo fora do normal poderia ocorrer.

“Naquele dia parecia que eu estava com um pressentimento. Dormi mal, tive sonhos perturbadores e acordei preocupado. Fui trabalhar sem muita vontade, como se eu estivesse adivinhando que alguma coisa errada ia acontecer. A máquina nº 2 estava com defeito e eu pedi para trocá-la e, em Paranapiacaba, troquei pela nº 3. Engatei no cabo, liguei o vapor com toda a força testando a segurança. O fiscal do patamar olhou, achou que estava tudo em ordem e comecei a descer. Logo em seguida ouvi um estouro: o cabo tinha se partido” – relembrou Romão à revista.

 

O foguista, que ajudava Romão na época, era Adriano Souza Andrade, que foi outro herói na ocasião. Pela sua perícia, o maquinista recebeu um prêmio em dinheiro correspondente a dois meses de seu salário.

 

Em 1.967, quando a ferrovia não estava mais sob a concessão dos ingleses, Romão recebeu uma homenagem da EFSJ – Estrada de Ferro Santos-Jundiaí: uma placa com seu nome no Locobreque número 04.

Fica aqui também a nossa singela homenagem a esse herói ferroviário brasileiro, Sr. Romão Justo Filho.

(Fonte de Pesquisa: https://diariodotransporte.com.br/2019/03/10/historia-paranapiacaba-e-um-modesto-heroi-da-ferrovia/).

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